Ausência
Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta..
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.
(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)
Ana Cristina Cruz Cesar (Rio de Janeiro, 2 de junho de 1952 — Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1983) foi uma poetisa etradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar (ou Ana C.). É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 1970, e tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal.
Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cruz, Ana Cristina nasceu em uma família culta e
protestante de
classe média. Tinha dois irmãos, Flávio (viúvo de
Gabriela Leite, fundadora da
Daspu) e Filipe.
Cesar começou a publicar poemas e textos de
prosa poética na década de
1970 em coletâneas,
revistas e
jornais alternativos. Seus primeiros livros,
Cenas de Abril e
Correspondência Completa, foram lançados em edições independentes. As atividades de Ana Cristina não pararam: pesquisa literária,
mestrado em
comunicação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra temporada na Inglaterra para um mestrado em tradução literária (na
Universidade de Essex), em
1980, e a volta ao Rio, onde publicou
Luvas de Pelica, escrito na Inglaterra. Em suas obras, Ana Cristina Cesar mantém uma fina linha entre o
ficcional e o
autobiográfico.
Cometeu
suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do
apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da rua Toneleiro, em
Copacabana.
Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, foi o melhor amigo de Ana Cristina Cesar, para quem ela deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do
Instituto Moreira Salles. A família fez a doação mediante a promessa de os escritos ficarem no Rio de Janeiro. Contudo, sabe-se que muitas cartas de Ana Cristina Cesar foram censuradas pela família, principalmente as recebidas do escritor
Caio Fernando Abreu.
Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
(em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos)