24 de novembro de 2011

 

Poema de Natal
 Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

O poema acima foi foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.
Conheça a vida e a obra do autor em "Biografias".

22 de novembro de 2011

Hoje - 22/11 - é DIA DO MUSICO.

Meus cumprimentos aos colegas e amigos que se dedicam a mágica arte da Musica, e que continuem a nos brindar com esse Dom tão sublime e essencial dado por Deus.

Agora, um pouco da historia desse dia p/ voces...
 
Sta Cecília é tida como Padroeira dos musicos

No início, a música era apenas rítmo marcado por primitivos com instrumentos de percussão, pois como os povos da antiguidade ignoravam os princípios da harmonia, só com o tempo foram acrescentando a ela fragmentos melódicos. Na pré-história o homem descobriu os sons do ambiente que o cercava e aprendeu suas diferentes sonoridades: o rumor das ondas quebrando na praia, o ruído da tempestade se aproximando, a melodia do canto animais, e também se encantou com o seu próprio canto, percebendo assim o instrumento musical que é a voz. Mas a música pré-histórica não é considerada como arte, e sim uma expansão impulsiva e instintiva do movimento sonoro, apenas um veículo expressivo de comunicação, sempre ligada às palavras, aos ritos e à dança. Os primeiros dados documentados sobre composições musicais referem-se a dois hinos gregos dedicados ao deus Apolo, gravados trezentos anos antes de Cristo nas paredes da Casa do Tesouro de Delfos, além de alguns trechos musicais também gregos, gravados em mármore, e mais outros tantos egípcios, anotados em papiros. Nessa época, a música dos gregos baseava-se em leis da acústica e já possuía um sistema de notações e regras de estética.

Por outro lado, a história de Santa Cecília, narrada no Breviarium Romanum, a apresenta como uma jovem de família nobre que viveu em Roma no século III, nos princípios do cristianismo, decidida a viver como monja desde a infância. Mas apesar dos pais a terem dado em casamento a um homem chamado Valeriano, a jovem convenceu o noivo a respeitar-lhe os votos e acabou convertendo-o à sua fé, passando os dois a participar diariamente da missa celebrada nas catacumbas da via Ápia. Em seguida, Valeriano fez o mesmo com o irmão Tibúrcio, e com Máximo, seu colega íntimo, e por isso os três foram martirizados pouco tempo depois, enquanto Cecília, prevendo o que lhe aconteceria, distribuiu aos pobres tudo o que possuía. Presa e condenada a morrer queimada, ela foi exposta ao fogo durante um dia e uma noite, mas como depois disso ainda se encontrava sem ferimentos, um carrasco recebeu ordem para decapitá-la. Mas, seu primeiro golpe também falhou. Isso aconteceu durante o ano 230, no reinado de Alexandre Severo, época em que Urbano I ocupava o papado. Anos depois uma igreja foi erigida pelo papa no local em que a jovem mártir residira, tornando-se a Igreja de Santa Cecília uma das mais notáveis de Roma.

Muito embora o Breviarium Romanum não faça menção alguma às prendas musicais de Cecília, ela se tornou, por tradição, a padroeira dos músicos, da música e do canto, cuja data de comemoração é 22 de novembro, o mesmo dia dedicado à santa. A tradição conta que Santa Cecília cantava com tal doçura, que um anjo desceu do céu para ouvi-la..
 

20 de novembro de 2011


 Arthur da Távola
*3 de Janeiro de 1936
+ 9 de Maio de 2008

(Para conhecer mais sobre esse escritor, clique em

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ATO DE CONTRIÇÃO

Ah, como somos comedidos!
Acomodamo-nos, vãos,
nos limites do concebido.

Somos bem educados, cultos,
e ruge tanta fome
nos apetites fora do concedido.

Ah, como somos sob medida!
sub metidos, hirtos, bem vestidos,
robôs impecáveis, ilusão de vida.

Ah, somos como os subvertidos,
introvertida soma de extrovertidos
por pompa, tinta, arroto ou brilhantina.

Filhos do instante, do entanto e do porém,
somos através, como os vidros,
mas opacos e pervertidos, sempre aquém.

Traçamos sinas e abstrações,
terçamos ódio finos, dissuadidos,
lãs de olvido e alucinações.

Sovamos os sidos, os vividos,
somos eiva, disfarce, diluição.
Somos somas a subtrações.

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TODO CASAL DEVERIA LER

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O Amor Maduro 

O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas silencioso. Não é menor em extensão.
É mais definido colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: Presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas:
amplia-se com as usências significantes.
O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas
trabalhosas de construir o bem, o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca
e do cheiro  do outro - está a compreensão antecipada, a adivinhação,
o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto,
os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver,
o equilíbrio de carne  e de espírito.
O amor maduro é a valorização do melhor do outro
e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu, mesmo tendo ficado para depois,
vive do que fermentou criando dimensões novas
para sentimentos antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não percebe, recebe.
Não exige, oferece.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão,
basta-se com o todo do pouco. Não precisa e nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e por isso mesmo é incompleto,
por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
É o sol de outono: nítido, mas doce.
 Luminoso, sem ofuscar.
Suave, mas definido.
Discreto, mas certo.
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Quem não tem namorado 

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais dificil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, nem ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira, basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou largatixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor das mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quanda fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira-d’água, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar.

Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no final de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.

Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfente-se com com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboleta, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis epalavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

*Obs.: Este texto, frequentemente, tem sido atribuído a Carlos Drummond de Andrade. Mas, de fato, é de Artur da Távola. Foi publicado no livro: “Amor a sim mesmo” (sic) – (coletânea de crônicas de Távola), Ed. Círculo do Livro, por cortesia da Ed. Nova Fronteira S.A. copyright – © 1.984 Paulo Alberto M. Monteiro de Barros (nome real de Artur da Távola).

16 de novembro de 2011

Eça de Queiroz


José Maria de Eça de Queirós, nascido aos 25 de novembro de 1945 em Póvoa de Varzim-Portugal e falecido aos 16 de agosto de 1900 em Paris-França. Considerado por muitos como o melhor escritor realista português do século XIX, era filho de Carolina Augusta Pereira d'Eça e José Maria Teixeira de Queirós, magistrado, formado em Direito por Coimbra. Aos dezesseis anos entrou para a Universidade de Coimbra onde, também, estudou direito. Seus primeiros trabalhos publicados, sob o nome de Prosas Bárbaras, foi como um folhetão na revista "Gazeta de Portugal". Suas obras foram traduzidos em aproximadamente 20 línguas e são bastante conhecidas no Brasil. (Fonte: Wikipédia)
 

A história de uma família portuguesa, em finais do século XIX, tornou-se uma das obras mais consagradas a nível mundial. Do punho de Eça de Queirós, numa escrita realista que apontava todos os “podres” dos protagonistas, seguimos os Maias. Nas figuras do patriarca Afonso, do traído Pedro e do diletante Carlos apresentam-se três gerações de uma família de elevado estatuto nas lides lisboetas.O palácio do Ramalhete, o Teatro da Trindade e Sintra são alguns dos palcos da acção. Nestes lugares desfilam personagens-tipo de um tempo “queirosiano”: mulheres fatais, políticos corruptos, jovens utópicos que assumem um papel de mudança no futuro do país, para, no fim, nada terem feito.

O incesto também é um tema-chave do livro. O promissor Carlos, médico, de brilhante início de carreira, respeitado pelos seus pares, envolve-se com uma misteriosa dama casada. Depois de algumas peripécias (saber que Maria Eduarda afinal não era pertença de outro homem) e de, finalmente, poder viver livremente aquele amor tão “puro”, Carlos da Maia vê o seu mundo ruir: ela era a sua irmã, levada de Portugal pela mãe, aquela Maria Monforte das histórias do avô, aquela que conduziu Pedro ao suicídio.

Eça de Queirós levou oito anos a compor esta saga familiar que, para lá das desventuras amorosas do membro mais novo (Carlos) e das tropelias do seu melhor amigo (João da Ega), também revela um Portugal de Fim-de-Século muito contemporâneo. Toda uma sociedade foi alvo do olhar atento, irónico e muito mordaz de Eça. Política, cultura, costumes e rotinas, nada escapou neste grande clássico da literatura.

(Baixar Os Maias - Megaupload )

Obras

O mistério da estrada de Sintra (1870)
O Crime do Padre Amaro (1875)
O primo Basílio (1878)
O mandarim (1880)
A relíquia (1887)
Os Maias (1888)
Uma campanha alegre (1890-91)
Correspondência de Fradique Mendes (1900)
A Ilustre Casa de Ramires (1900)
A cidade e as serras (1901, Póstumo)
Contos (1902, Póstumo)
Prosas bárbaras (1903, Póstumo)
Cartas de Inglaterra (1905, Póstumo)
Ecos de Paris (1905, Póstumo)
Cartas familiares e bilhetes de Paris (1907, Póstumo)
Notas contemporâneas (1909, Póstumo)
Últimas páginas(1912, Póstumo)
A capital (1925, Póstumo)
O conde d'Abranhos (1925, Póstumo)
Alves & Companhia (1925, Póstumo)
Correspondência (1925, Póstumo)
O Egipto (1926, Póstumo)
Cartas inéditas de Fradique Mendes (1929, Póstumo)
Páginas esquecidas (1929, Póstumo)
Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas (1949, Póstumo)
A tragédia da rua das flores (sem data de referência)
As minas de Salomão (sem data de referência)
Adão e Eva no paraíso (sem data de referência)
Antônio Gonçalves Dias

Fotografias,Retrato de Gonçalves Dias,Biografias,Personalidades,Poesia,Poetas brasileiros
* Caxias, MA. – 10 de Agosto de 1823 d.C
+ Guimarães, MA. – 13 de Novembro de 1864 d.C

( para ver sua Biografia é só clicar em http://www.biografia.inf.br/goncalves-dias-poetas.html )

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Cartão postal com poema de Gonçalves Dias


Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.

3 de novembro de 2011

FACE




Uma vez, quando eu estava com uns doze anos, entrei devagar no gabinete do meu avô, aquele lugar forrado em couro e livros que tanto me agradava.  
Cumprimentamo-nos e ele percebeu que eu olhava fixo para o seu rosto:
- O que há, meu rapaz? Só agora viu como eu sou bonito?
- Não exatamente, Vô, é que eu estava procurando as maçãs.
- E esta agora! Que maçãs, seu esquisito?
- As maçãs do seu rosto. Hoje eu li essa expressão e não estou vendo maçã em rosto nenhum.
- Ah, está bem, seu gracioso.  Então sente aí que eu vou explicar que “maçãs do rosto” se referem à saliência que os ossos malares fazem aqui ao lado do nariz, embaixo dos olhos, ó.
- E antigamente se achava que isso parecia com uma maçã? Nem tem casca vermelha…
- Bem, os nomes dados a partes de nossa anatomia às vezes eram meio estranhos mesmo. Ah, e antes que eu me esqueça, malar vem do Latim malum, “maçã”. Mas pelo menos pomo-de-adão faz algum sentido.
- Isso o que é?
- Trata-se desta saliência aqui no meio da garganta, que muitos chamam de gogó.  Dizem que se trata de um pedaço do fruto proibido que ficou entalado na garganta de Adão, ainda no Paraíso.
- E é verdade? E “gogó”, de onde vem?
- Parece que não. É apenas a cartilagem laríngea que, nos homens, é maior e mais notável por ação hormonal. 
“Gogó” viria de goela, que veio do Latim gula, “garganta, esôfago”.
- E os nomes de outras partes do rosto, Vô? Nariz, por exemplo?
- Esse vem do Latim nasus, “nariz”. E o olho vem do Latim oculus, “olho”…
- Essa não! Peguei o senhor! Isso só pode ser a origem da palavra “óculo”! Meu avô se enganou, ah,ah!
- Cale-se, seu espertinho. Olhe os seus erros: primeiro, achar que um intelecto superior como o meu pode se enganar. O que eu disse está certo, e “óculos” vieram também de oculus.
E depois, esta palavra é uma das chamadas pluralia tantum, as que só se usam no plural. Dizer “óculo” para esse artefato com duas lentes é erro grosseiro.
- Mas todo o mundo diz “meu óculo”!
- Pois diz errado e o meu neto não vai falar errado por causa disso. E pronto, vamos continuar lidando com palavras como…
- Já sei, aquilo que fica sobre o olho e lhe dá sombra, a sombrancelha.
- Você hoje está decidido a fazer um festival de besteira, não? Essa etimologia popular é totalmente errada. A verdadeira origem é o Latim supercilia, “sobre os cílios”. E cilium queria dizer “o que serve para esconder ou tapar os olhos”, um derivado de celare, “esconder, cobrir”.
E o olho contém a pupila, que vem do Latim pupilla, diminutivo de pupa, “boneca”.  Isso porque a imagem de uma pessoa pode ser vista refletida no centro do olho de outra em ponto muito pequeno.
- Legal esta, Vô. E a boca?
- É do Latim bucca. Mas note que, inicialmente, esta palavra se referia à bochecha, principalmente quando inflada por um esforço.  Daí, aliás, vem “buzina”…
- Agora sim errou, Vô. Vai me dizer que as bigas romanas tinham buzinas, se nem bateria elas usavam!
- Senhor, por que me deste um descendente com as idéias tão confusas? Não dá para devolver? – disse o velho, levantando dramaticamente os olhos para o céu.
Olhe aqui, seu peste, bucina era um nome dado a qualquer instrumento de sopro usado para dar sinal à distância. Podia ser de qualquer  material, inclusive de certas conchas grandes, o que deu origem à nossa palavra búzio.
- Ah, tá. E bochecha, também veio de bucca?
- Veio do Italiano boccia, “bola”, em comparação com o formato arredondado delas quando infladas.
E já que estamos perto, lábio veio do Latim labium. E, afastando-nos um pouco do centro da face, temos as orelhas, do Latim auricula, diminutivo de auris, “orelha” propriamente dita.
queixo vem do…
- Do hábito de se queixar, que a gente faz movendo o queixo para falar, desta vez acertei?
- Mais uma dessas e atiro você pela janela fechada. Você está incontrolável hoje. Não,queixo vem de capseum, “semelhante a uma caixa”, de capsa, “caixa”. E não precisa me dizer que não lembra uma caixa, que eu acho o mesmo.
E “queixa” vem do Latim quassiare, “sacudir, chacoalhar, abanar”.
Subindo, encontramos a testa, que veio do Latim testa, “concha, carapaça, vaso de argila”, pela curvatura.
E subindo mais ainda chegamos aos cabelos, palavra que deriva do Latim capillus, “cabelo”, de caput, “cabeça”.  A qual, no caso do meu neto aqui presente, é oca.
E antes que o dito cujo neto proteste, acrescento que barba é do Latim barba, de mesmo significado.
- E as suíças?
- Parece que estas derivaram da época em que o rei Luís XIII da França contratou mercenários suíços para servir em seu exército. Eles apareceram com vistosos apêndices pilosos na região em frente às orelhas e fizeram sucesso.
E o nome do país vem de Schwyz, o nome de um dos três cantões iniciais da confederação, que provavelmente vem do Germânico suittes, talvez relacionado com suedan, “queimar”, em referência às áreas desmatadas e queimadas para a construção das cidades.
- Quer dizer que essa atividade não é só brasileira, Vô?
- Como se vê, é antiga e destacada a ponto de dar nome a um país.
Para terminar, todas estas palavras pertencem à face, que deriva do Latim facies, “aparência, forma, figura”, provavelmente de facere, “fazer”.
E antes que você incendeie a paciência do seu avô, vá brincar um pouco com o gato, que está esperando por você.