19 de dezembro de 2015


ORAÇÃO DE NATAL 
(ode às virtudes, de Oldney Lopes)

Que no natal
Não faltem sonhos
Já que os sonhos impulsionam nossas vidas

Que no natal
Não falte a educação
Já que, educada, a humanidade prospera

Que no natal
Não falte a caridade
Porque com caridade, cessarão todas as fomes

Que no natal
Não falte o respeito
Porque havendo respeito, a convivência será harmônica

Que no natal
Não falte a fraternidade
Porque irmanados, não faremos guerras

Que no natal
Não falte a solidariedade
Porque solidários, nos fortaleceremos

Que no Natal
Não falte dignidade
Vez que, havendo dignidade, seremos, de fato, humanos

Que no Natal
Não falte amizade
Porquanto havendo amizade, não haverá solidão

Que no Natal
Não falte o perdão
Pois havendo perdão, não haverá vinganças

Que no Natal
Não falte a esperança
Pois havendo esperança, buscaremos, constantemente, novas alegrias

Que no Natal
Não falte o amor
Pois reinando o amor, o ódio não terá lugar
E que as virtudes se espalhem

Por todos os dias
E por todas as criaturas
Para que todos os dias sejam 
Verdadeiramente
Natal.

Amém!

30 de outubro de 2015




A cada uma de vocês, amigas "guerreiras" e maravilhosas, que  regem suas vidas sob as forças da natureza, respeitando a criação, seja planta, bicho, gente, e cuja sensibilidade é usada  em prol do bem comum...

Um magnífico e abençoado HELLOWEEN !!!!

4 de agosto de 2015

Um lindo texto de CORA CORALINA...




"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo pra você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo.
Eu não digo que estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.
O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.
Eu não digo nunca que estou cansada.Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!
Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha, não. Você acha que eu sou?
Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser.
Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos.
Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir".


* Não sei o nome do artista que pintou essa tela, mas se alguém souber por favor me diga para que eu atribua o crédito, pois é simplesmente linda...

22 de junho de 2015



SONETO AO INVERNO 
Vinicius de Moraes


Inverno, doce inverno das manhãs 
Translúcidas, tardias e distantes 
Propício ao sentimento das irmãs 
E ao mistério da carne das amantes:

Quem és, que transfiguras as maçãs 
Em iluminações dessemelhantes 
E enlouqueces as rosas temporãs 
Rosa-dos-ventos, rosa dos instantes?

Por que ruflaste as tremulantes asas 
Alma do céu? o amor das coisas várias 
Fez-te migrar - inverno sobre casas!

Anjo tutelar das luminárias 
Preservador de santas e de estrelas... 
Que importa a noite lúgubre escondê-las?

- Londres, 1939 -


2 de junho de 2015

ANA CRISTINA CRUZ CESAR - Poeta


Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta..
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Ausência é um estar em mim.
E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços
Que rio e danço e invento exclamações alegres.
Porque a ausência, esta ausência assimilada,
Ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)

Ana Cristina Cruz Cesar (Rio de Janeiro2 de junho de 1952 — Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1983) foi uma poetisa etradutora brasileira, conhecida como Ana Cristina Cesar (ou Ana C.). É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 1970, e tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal.
Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cruz, Ana Cristina nasceu em uma família culta e protestante de classe média. Tinha dois irmãos, Flávio (viúvo de Gabriela Leite, fundadora da Daspu) e Filipe.
Antes mesmo de ser alfabetizada, aos seis anos de idade, já ditava poemas para sua mãe. Em 1969, Ana Cristina Cesar viajou à Inglaterra em intercâmbio e passou um período em Londres, onde travou contato com a literatura em língua inglesa. Quando regressou ao Brasil, com livros de Emily DickinsonSylvia Plath e Katherine Mansfield nas malas, dedicou-se a escrever e a traduzir, entrando para a Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), aos dezenove anos.
Cesar começou a publicar poemas e textos de prosa poética na década de 1970 em coletâneas, revistas e jornais alternativos. Seus primeiros livros, Cenas de Abril e Correspondência Completa, foram lançados em edições independentes. As atividades de Ana Cristina não pararam: pesquisa literária, mestrado em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra temporada na Inglaterra para um mestrado em tradução literária (na Universidade de Essex), em 1980, e a volta ao Rio, onde publicou Luvas de Pelica, escrito na Inglaterra. Em suas obras, Ana Cristina Cesar mantém uma fina linha entre o ficcional e o autobiográfico.
Cometeu suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da rua Toneleiro, em Copacabana.
Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, foi o melhor amigo de Ana Cristina Cesar, para quem ela deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles. A família fez a doação mediante a promessa de os escritos ficarem no Rio de Janeiro. Contudo, sabe-se que muitas cartas de Ana Cristina Cesar foram censuradas pela família, principalmente as recebidas do escritor Caio Fernando Abreu.

Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos

(em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos)

13 de maio de 2015

Entrevista...

Para aqueles que não viram minha entrevista no programa OPINIÃO semana passado, aí vai. Espero que gostem..

13 de abril de 2015

A primeira mulher poeta do Brasil



BÁRBARA HELIODORA 
mulher símbolo de um novo mundo

Bárbara  nasceu Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, em São João Del Rei, Minas Gerais, em 1759. Primeira poetisa brasileira, culta e revolucionária, Bárbara foi uma mulher que, em toda sua vida, agiu com coragem e fibra. Aos 20 anos se apaixonou pelo poeta Alvarenga Peixoto. Da paixão, nasceu Maria Ifigênia.

O casamento só aconteceu depois do nascimento da menina e Bárbara manteve o nome de solteira. A ligação entre os dois foi marcada pela harmonia e companheirismo. O casal teria, ainda, outros três filhos. Bárbara e Alvarenga Peixoto participaram da organização da inconfidência do país.

Segundo Aureliano Leite, no livro "A Vida Heróica de Barbara Heliodora", a presença de Bárbara foi fundamental na vida de Alvarenga Peixoto:"...Ela foi a estrela do norte que soube guiar a vida do marido, foi ela que lhe acalentou o seu sonho da inconfidência do Brasil…Quando ele, em certo instante, quis fraquejar, foi Bárbara quem o fez reaprumar-se na aventura patriótica. Disso e do mais que ela sofreu com alta dignidade fez com que a posteridade lhe desse tratamento de Harmonia da Inconfidência’’.

O casamento durou 10 anos, período da produção poética de Eliodora. Em 1789, época da Conjuração, Alvarenga Peixoto foi preso e arrastado de São João Del Rei ao Rio de Janeiro, sendo levado para a fortaleza da Ilhas das Cobras e, depois, ele seria mandado para África, onde morreria.

Suas lutas e conquistas nos surpreendem mesmo atualmente, mas ocorreram há 250 anos, época marcante do preconceito e violência contra as mulheres.

No cárcere, escreveu "Bárbara Bela", onde exaltava a dor da distância da mulher:


"Bárbara Bela
Do norte estrela
Que o meu destino
Sabe guiar
De ti ausente
Triste somente
As horas passo
A suspirar
Pôr entre as penhas
De incultas brenhas
Cansa-me a vista
De te buscar
Porém não vejo
Mais te desejo,
Sem esperança
De te encontrar


Eu também queria
A noite e o dia
Contigo pode passar
Mas orgulhosa
Sorte invejosa,
D’esta fortuna
Me quer privar
Tu, Entre os braços,
Temos abraços
Da filha amada
Pode gozar,
Priva-me da estrela
De ti e D’ela
Busca dou modos
De me matar!".

Após a prisão de Alvarenga Peixoto, Barbara Heliodora não mais escreveu, teve a metade dos seus bens confiscados e passou a ser discriminada por toda a sociedade da época. Viúva, passou a se dedicar à educação dos quatro filhos e à administração dos bens restantes. Em 1795 ela sofreu outra perda, Maria Ifigênia,  em decorrência de uma queda de cavalo.  Figura de expressão na Inconfidência Mineira, Bárbara foi muito tempo retratada, em livros de história inclusive como demente louca, como que andava esfarrapada pela Ruas de São João Del Rei falando Bobagens e loucuras.

 Neste século alguns escritores como Aureliano Leite, lutaram para resgatar a verdade de sua vida. Em "A Vida Heróica de Bárbara Heliodora" Leite afirmava que Bárbara viveu seus últimos vinte e tantos anos em perfeito juízo, nesse período cuidou dos negócios da família, foi admitida da ordem 3a. do Carmo, de São João Del Rei e morreu em São Gonçalo do Sapucaí, aos 60 anos, vitima de tuberculose: "A uma louca e indigente não se dedicaram exéquias dessa pompa".  Para Aureliano Leite, houve uma criação em torno da figura de Heliodora. Lendas que escondem dos brasileiros a verdade e que são desmentidas em palavras como a do escritor Uruguaio Rodrigues Fabregat (ver baixo), que qualifica Bárbara Heliodora de "Mulher do Novo Mundo", colocando-a entre as mães da epopeia do Novo Mundo:


"…e esta outra, também de sua carne vem, grande e profética: que traz em seus lábios de Mulher, gladiadora ardente, clamores de despertar; que traz em suas mãos uma bandeira nova e alça sobre multidões estremecidas; que traz em sua mensagem um desejo de liberdade, um credo republicano que, com ele sobe até a cúpula de seu calvário e da história: que junto às minas de ouro das rapinas imperiais, fala com voz de brasileira,  gente a proclamar direitos e conquistá-los; esta, de Vila Rica, em Minas Gerais companheira da inconfidência revolucionaria na saga heróica de VGRT e na morte mártir, esta mulher do novo mundo - oh, mãe epopéia do Novo Mundo! Cravada em seu madeiro de sacrifício com quatro escravos ardentes de Cruzeiro do Sul… Bárbara Heliodora !"


Ousada para sua época - Bárbara foi a primeira Mulher poeta do Brasil, uma das ideologias organizadoras da inconfidência Mineira - teve uma filha antes do casamento e, mesmo depois de casada, fez questão de continuar com seu nome de solteira. Após a morte do marido, Bárbara ainda administrou   os negócios da família, e cuidou da educação dos seus 4 filhos. O texto de Rodrigues chama-a de "Mulher do Novo Mundo".




Conselhos a seus filhos 

Meninos, eu vou dictar
As regras do bem viver,
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz sabios é o pensar.

Neste tormentoso mar
D'ondas de contradicções,
Ninguem soletre feições,
Que sempre se ha de enganar;
De caras a corações
A muitas legoas que andar.

Applicai ao conversar
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos,
E também podem fallar:
Ha bixinhos escondidos,
Que só vivem de escutar.

Quem quer males evitar
Evite-lhe a occasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguem os procurar;
E antes que ronque o trovão,
Manda a prudencia ferrar.

Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas;
Rapazes e raparigas
Não sabem mais, que asnear;
As conversas, e as intrigas
Servem de precipitar.

Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem, que ratos velhos
Não ha modo de os caçar:
Não batam ferros vermelhos,
Deixem um pouco esfriar.

Se é tempo de professar
De taful o quarto voto,
Procurai capote roto
Pé de banco de um brilhar,
Que seja sábio piloto
Nas regras de calcular.

Se vos mandarem chamar
Para ver uma funcção,
Respondei sempre que não,
Que tendes em que cuidar:
Assim se entende o rifão.
Quem está bem, deixa-se estar.

Devei-vos acautelar
Em jogos de paro e tópo,
Promptos em passar o copo
Nas angolinas do azar:
Taes as fábulas de Esopo,
Que vós deveis estudar.

Quem fala, escreve no ar,
Sem pôr virgulas nem pontos,
E póde quem conta os contos,
Mil pontos accrescentar;
Fica um rebanho de tontos
Sem nenhum adivinhar.

Com Deus e o rei não brincar,
É servir e obedecer,
Amar por muito temer
Mâs temer por muito amar,
Santo temor de offender
A quem se deve adorar!

Até aqui pode bastar,
Mais havia que dizer;
Mâs eu tenho que fazer,
Não me posso demorar,
E quem sabe discorrer
Póde o resto adivinhar.


Bárbara Heliodora


O sonho

Oh que sonho! Oh! que sonho eu tive n'esta,
Feliz, ditosa e socegada sésta!
Eu vi o Pão de Assucar levantar-se
E no meio das ondas transformar-se
Na figura de um indio o mais gentil,
Representando só todo o Brazil.
Pendente ao tiracol de branco arminho
Concavo dente de animal marinho
As preciosas armas lhe guardava;
Era thesoiro e juntamente aljava.
De pontas de diamante eram as setas,
As hásteas d'oiro, mas as pennas pretas;
Que o indio valeroso altivo e forte
Não manda seta, em que não mande a morte,
Zona de pennas de vistosas côres
Guarnecida de barbaros lavores,
De folhetas e perolas pendentes,
Finos chrystaes, topazios transparentes,
Em recamadas pelles de sahiras,
Rubins, e diamantes e saphiras,
Em campo de esmeralda escurecia
A linda estrella, que nos traz o dia.
No cocar... oh que assombro! oh que riqueza!
Vi tudo quanto póde a natureza.
No peito em grandes letras de diamante
O nome da augustissima imperante.
De inteiriço coral novo instrumento
As mãos lhe occupa, em quanto ao doce accento
Das saudosas palhetas, que afinava,
Pindaro americano assim cantava.

Sou vassallo e sou leal,
Como tal,
Fiel constante,
Sirvo á glória da imperante,
Sirvo á grandeza real.
Aos elysios descerei
Fiel sempre a Portugal,
Ao famoso vice-rei,
Ao illustre general,
Ás bandeiras, que jurei,
Insultando o fado e a sorte,
E a fortuna desigual,
Qu'a quem morrer sabe, a morte
Nem é morte, nem é mal.

Bárbara Heliodora 


Poesias do livro: "Florilégio da Poesia Brasileira", de Varnhagen, 1946 (nos três tomos constam "fac-símile do frontespício da ed. princeps do "Florilégio da Poesia Brasileira", de 1850).

Barão em Foco- Coletânea História do Brasil

 (FONTE: http://www.baraoemfoco.com.br/barao/coluna/barbaraheliodora.htm )

30 de março de 2015

Caminhar, uma Filosofia

* Frédéric Gros



Andar a pé é uma atividade que atrai uma quantidade cada vez maior de adeptos em busca dos benefícios que ela proporciona: relaxamento, comunhão com a natureza, plenitude... 

Somos muitos a tirar proveito dessas dádivas. Caminhar não requer nem aprendizagem, nem técnica,nem equipamento, nem dinheiro. Bastam um corpo, espaço e tempo. Mas a caminhada é também um ato filosófico e uma experiência espiritual. 

Da vagabundagem à peregrinação, da perambulação ao percurso iniciático, o autor explora a literatura, a história e a filosofia: Rimbaud e a tentação da fuga, Gandhi e a política de resistência, sem esquecer Kant e suas caminhadas cotidianas em Königsberg. E se só fosse possível pensar direito usando os pés? 

O que Nietzsche quer dizer quando escreve: “Meus dedos dos pés ficam de orelha em pé para escutar”? É o que se procura entender aqui. Este livro é, ao mesmo tempo, um tratado de filosofia e uma definição da arte de caminhar.


Frédéric Gros

SOBRE O AUTORFrédéric Gros é professor da Universidade Paris-Est Créteil (upec) e editor dos últimos cursos de Michel Foucault no Collège de France. É autor de livros sobre a história da psiquiatria e filosofia penal. Estabeleceu, com Arnold Davidson, uma antologia de textos de Foucault: Philosophie (Folio essais 443, Gallimard, 2004).
 Escreveu ainda: Caminhar, uma filosofia (Ed. Realizações, 2010) e États de violence – Essai sur la fin de la guerre (Gallimard, 2006), além de ensaios para os livros Mutações: ensaios sobre as novas configurações do mundoMutações: a experiência do pensamento,Mutações: elogio à preguiça e Mutações: o futuro não é mais o que era.

27 de fevereiro de 2015




Última Chamada para a II ANTOLOGIA DA ALAB - Búzios


Prezado (a) Escritor e Poeta,
Atenção!

Informamos que atendendo à pedidos, devido ao final das férias e do Carnaval, o prazo das inscrições da II ANTOLOGIA DA ALAB - Búzios foi prorrogada por mais alguns dias.

As inscrições deverão ser enviadas, o quanto antes, diretamente no e-mail da Editora responsável, Oficina do Livro:contato@oficinaeditora.com.br,  com cópia para a academia alab@mar.com.br.

Ainda dá tempo, faça já a sua inscrição!!

Lembramos que esta Antologia será lançada durante o IV SACI - Semana de Artes e Culturas Internacionais, que acontecerá de 19 à 24 de maio  quando teremos entre as inúmeras atividades culturais deste evento, também o Sarau dos Autores (acadêmicos e não acadêmico).

O participante da obra antológica poderá ou não estar presente no lançamento. Aquele que estiver presente e ainda não for um Acadêmico ALAB, poderá se candidatar para tomar posse na cerimônia que acontecerá na ocasião. Para isso precisa enviar, urgentemente, seu currículo com foto para a apreciação. A posse, bem como sua cerimônia, não requer qualquer custo para o neoacadêmico, todavia, ele precisará estar presente na mesma.


Para mais informações, estou à disposição.
Um forte abraço fraterno,
Dyandreia Portugal
Diretora ALAB

22 de fevereiro de 2015

Clarice de Lispector...



Meus queridos

Aqui vai um presente para vocês: uma entrevista  com Clarice de Lispector feita em fevereiro de 77.

Vocês poderão sentir, no decorrer da entrevista, a amargura e/ou a tristeza dessa mulher que, conforme fica subentendido no final da entrevista, passou por algo que deixou sua alma ferida... 

Clarice, uma mulher triste, uma alma atormentada por um "segredo", como ela mesmo disse... 

E logo a seguir, uma homenagem a Clarice, escrita por Carlos Drummond de Andrade. Confiram.




9 de fevereiro de 2015



Me alugo para sonhar

  


Às nove, enquanto tomávamos o café da manhã no terraço do Habana Riviera, um tremendo golpe de mar em pleno sol levantou vários automóveis que passavam pela avenida à beira-mar, ou que estavam estacionados na calçada, e um deles ficou incrustado num flanco do hotel. Foi como uma explosão de dinamite que semeou pânico nos vinte andares do edifício e fez virar pó a vidraça do vestíbulo. Os numerosos turistas que se encontravam na sala de espera foram lançados pelos ares junto com os móveis, e alguns ficaram feridos pelo granizo de vidro. Deve ter sido uma vassourada colossal do mar, pois entre a muralha da avenida à beira-mar e o hotel há uma ampla avenida de ida e volta, de maneira que a onda saltou por cima dela e ainda teve força suficiente para esmigalhar a vidraça.
Os alegres voluntários cubanos, com a ajuda dos bombeiros, recolheram os destroços em menos de seis horas, trancaram a porta que dava para o mar e habilitaram outra, e tudo tornou a ficar em ordem. Pela manhã, ninguém ainda havia cuidado do automóvel pregado no muro, pois pensava-se que era um dos estacionados na calçada. Mas quando o reboque tirou-o da parede descobriram o cadáver de uma mulher preso no assento do motorista pelo cinto de segurança. O golpe foi tão brutal que não sobrou nenhum osso inteiro. Tinha o rosto desfigurado, os sapatos descosturados e a roupa em farrapos, e um anel de ouro em forma de serpente com olhos de esmeraldas. A polícia afirmou que era a governanta dos novos embaixadores de Portugal. Assim era: tinha chegado com eles a Havana quinze dias antes, e havia saído naquela manhã para fazer compras dirigindo um automóvel novo. Seu nome não me disse nada quando li a notícia nos jornais, mas fiquei intrigado por causa do anel em forma de serpente e com olhos de esmeraldas. Não consegui saber, porém, em que dedo o usava.
Era um detalhe decisivo, porque temi que fosse uma mulher inesquecível cujo verdadeiro nome não soube jamais, que usava um anel igual no indicador direito, o que era mais insólito ainda naquele tempo. Eu a havia conhecido 34 anos antes em Viena, comendo salsichas com batatas cozidas e bebendo cerveja de barril numa taberna de estudantes latinos. Eu havia chegado de Roma naquela manhã, e ainda recordo minha impressão imediata por seu imenso peito de soprano, suas lânguidas caudas de raposa na gola do casaco e aquele anel egípcio em forma de serpente. Achei que era a única austríaca ao longo daquela mesona de madeira, pelo castelhano primário que falava sem respirar com sotaque de bazar de quinquilharia. Mas não, havia nascido na Colômbia e tinha ido para a Áustria entre as duas guerras, quase menina, estudar música e canto. Naquele momento andava pelos trinta anos mal vividos, pois nunca deve ter sido bela e havia começado a envelhecer antes do tempo. Em compensação, era um ser humano encantador. E também um dos mais temíveis.
Viena ainda era uma antiga cidade imperial, cuja posição geográfica entre os dois mundos irreconciliáveis deixados pela Segunda Guerra Mundial havia terminado de convertê-la num paraíso do mercado negro e da espionagem mundial. Eu não teria conseguido imaginar um ambiente mais adequado para aquela compatriota fugitiva que continuava comendo na taberna de estudantes da esquina por pura fidelidade às suas origens, pois tinha recursos de sobra para comprá-la à vista, com clientela e tudo. Nunca disse o seu verdadeiro nome, pois sempre a conhecemos com o trava-língua germânico que os estudantes latinos de Viena inventaram para ela: Frau Frida. Eu tinha acabado de ser apresentado a ela quando cometi a impertinência feliz de perguntar como havia feito para implantar-se de tal modo naquele mundo tão distante e diferente de seus penhascos de ventos do Quindío, e ela me respondeu de chofre:
— Eu me alugo para sonhar.
Na realidade, era seu único ofício. Havia sido a terceira dos onze filhos de um próspero comerciante da antiga Caldas, e desde que aprendeu a falar instalou na casa o bom costume de contar os sonhos em jejum, que é a hora em que se conservam mais puras suas virtudes premonitórias. Aos sete anos sonhou que um de seus irmãos era arrastado por uma correnteza. A mãe, por pura superstição religiosa, proibiu o menino de fazer aquilo que ele mais gostava, tomar banho no riacho. Mas Frau Frida já tinha um sistema próprio de vaticínios.
— O que esse sonho significa — disse — não é que ele vai se afogar, mas que não deve comer doces.
A interpretação parecia uma infâmia, quando era relacionada a um menino de cinco anos que não podia viver sem suas guloseimas dominicais. A mãe, já convencida das virtudes adivinhatórias da filha, fez a advertência ser respeitada com mão de ferro. Mas ao seu primeiro descuido o menino engasgou com uma bolinha de caramelo que comia escondido, e não foi possível salvá-lo.
Frau Frida não havia pensado que aquela faculdade pudesse ser um ofício, até que a vida agarrou-a pelo pescoço nos cruéis invernos de Viena. Então, bateu para pedir emprego na primeira casa onde achou que viveria com prazer, e quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ela disse apenas a verdade: “Sonho”. Só precisou de uma breve explicação à dona da casa para ser aceita, com um salário que dava para as despesas miúdas, mas com um bom quarto e três refeições por dia. Principalmente o café da manhã, que era o momento em que a família sentava-se para conhecer o destino imediato de cada um de seus membros: o pai, que era um financista refinado; a mãe, uma mulher alegre e apaixonada por música romântica de câmara9 e duas crianças de onze e nove anos. Todos eram religiosos, e portanto propensos às superstições arcaicas, e receberam maravilhados Frau Frida com o compromisso único de decifrar o destino diário da família através dos sonhos.
Fez isso bem e por muito tempo, principalmente nos anos da guerra, quando a realidade foi mais sinistra que os pesadelos. Só ela podia decidir na hora do café da manhã o que cada um deveria fazer naquele dia, e como deveria fazê-lo, até que seus prognósticos acabaram sendo a única autoridade na casa. Seu domínio sobre a família foi absoluto: até mesmo o suspiro mais tênue dependia da sua ordem. Naqueles dias em que estive em Viena o dono da casa havia acabado de morrer, e tivera a elegância de legar a ela uma parte de suas rendas, com a única condição de que continuasse sonhando para a família até o fim de seus sonhos.
Fiquei em Viena mais de um mês, compartilhando os apertos dos estudantes, enquanto esperava um dinheiro que não chegou nunca. As visitas imprevistas e generosas de Frau Frida na taberna eram então como festas em nosso regime de penúrias. Numa daquelas noites, na euforia da cerveja, sussurrou ao meu ouvido com uma convicção que não permitia nenhuma perda de tempo.
— Vim só para te dizer que ontem à noite sonhei com você — disse ela. — Você tem que ir embora já e não voltar a Viena nos próximos cinco anos.
Sua convicção era tão real que naquela mesma noite ela me embarcou no último trem para Roma. Eu fiquei tão sugestionado que desde então me considerei sobrevivente de um desastre que nunca conheci. Ainda não voltei a Viena.
Antes do desastre de Havana havia visto Frau Frida em Barcelona, de maneira tão inesperada e casual que me pareceu misteriosa. Foi no dia em que Pablo Neruda pisou terra espanhola pela primeira vez desde a Guerra Civil, na escala de uma lenta viagem pelo mar até Valparaíso. Passou conosco uma manhã de caça nas livrarias de livros usados, e na Porter comprou um livro antigo, desencadernado e murcho, pelo qual pagou o que seria seu salário de dois meses no consulado de Rangum. Movia-se através das pessoas como um elefante inválido, com um interesse infantil pelo mecanismo interno de cada coisa, pois o mundo parecia, para ele, um imenso brinquedo de corda com o qual se inventava a vida.
Não conheci ninguém mais parecido à idéia que a gente tem de um papa renascentista: glutão e refinado. Mesmo contra a sua vontade, sempre presidia a mesa. Matilde, sua esposa, punha nele um babador que mais parecia de barbearia que de restaurante, mas era a única maneira de impedir que se banhasse nos molhos. Aquele dia, no Carvalleiras foi exemplar. Comeu três lagostas inteiras, esquartejando-as com mestria de cirurgião, e ao mesmo tempo devorava com os olhos os pratos de todos, e ia provando um pouco de cada um, com um deleite que contagiava o desejo de comer: as amêijoas da Galícia, os perceves do Cantábrico, os lagostins de Alicante, as espardenyas da Costa Brava. Enquanto isso, como os franceses, só falava de outras delícias da cozinha, e em especial dos mariscos pré-históricos do Chile que levava no coração. De repente parou de comer, afinou suas antenas de siri, e me disse em voz muito baixa:
— Tem alguém atrás de mim que não pára de me olhar.
Espiei por cima de seu ombro, e era verdade. Às suas costas, três mesas atrás, uma mulher impávida com um antiquado chapéu de feltro e um cachecol roxo, mastigava devagar com os olhos fixos nele. Eu a reconheci no ato. Estava envelhecida e gorda, mas era ela, com o anel de serpente no dedo indicador.
Viajava de Nápoles no mesmo barco que o casal Neruda, mas não tinham se visto a bordo. Convidamos para mulher a tomar café em nossa mesa, e a induzi a falar de seus sonhos para surpreender o poeta. Ele não deu confiança, pois insistiu desde o princípio que não acreditava em adivinhações de sonhos.
— Só a poesia é clarividente — disse.
Depois do almoço, no inevitável passeio pelas Ramblas, fiquei para trás de propósito, com Frau Frida, para poder refrescar nossas lembranças sem ouvidos alheios. Ela me contou que havia vendido suas propriedades na Áustria, e vivia aposentada no Porto, Portugal, numa casa que descreveu como sendo um castelo falso sobre uma colina de onde se via todo o oceano até as Américas. Mesmo sem que ela tenha dito, em sua conversa ficava claro que de sonho em sonho havia terminado por se apoderar da fortuna de seus inefáveis patrões de Viena. Não me impressionou, porém, pois sempre havia pensado que seus sonhos não eram nada além de uma artimanha para viver. E disse isso a ela.
Frau Frida soltou uma gargalhada irresistível. “Você continua o atrevido de sempre”, disse. E não falou mais, porque o resto do grupo havia parado para esperar que Neruda acabasse de conversar em gíria chilena com os papagaios da Rambla dos Pássaros. Quando retomamos a conversa, Frau Frida havia mudado de assunto.
— Aliás — disse ela —, você já pode voltar para Viena.
Só então percebi que treze anos haviam transcorrido desde que nos conhecemos.
— Mesmo que seus sonhos sejam falsos, jamais voltarei — disse a ela. — Por via das dúvidas.
Às três, nos separamos dela para acompanhar Neruda à sua sesta sagrada. Foi feita em nossa casa, depois de uns preparativos solenes que de certa forma recordavam a cerimônia do chá no Japão. Era preciso abrir umas janelas e fechar outras para que houvesse o grau de calor exato e uma certa classe de luz em certa direção, e um silêncio absoluto. Neruda dormiu no ato, e despertou dez minutos depois, como as crianças, quando menos esperávamos. Apareceu na sala restaurado e com o monograma do travesseiro impresso na face.
— Sonhei com essa mulher que sonha — disse.
Matilde quis que ele contasse o sonho.
— Sonhei que ela estava sonhando comigo disse ele.
— Isso é coisa de Borges — comentei.
Ele me olhou desencantado.
— Está escrito?
— Se não estiver, ele vai escrever algum dia — respondi. — Será um de seus labirintos.
Assim que subiu a bordo, às seis da tarde, Neruda despediu-se de nós, sentou-se em uma mesa afastada, e começou a escrever versos fluidos com a caneta de tinta verde com que desenhava flores e peixes e pássaros nas dedicatórias de seus livros. À primeira advertência do navio buscamos Frau Frida, e enfim a encontramos no convés de turistas quando já íamos embora sem nos despedir. Também ela acabava de despertar da sesta.
— Sonhei com o poeta — nos disse.
Assombrado, pedi que me contasse o sonho.
— Sonhei que ele estava sonhando comigo disse, e minha cara de assombro a espantou.
— O que você quer? Às vezes, entre tantos sonhos, infiltra-se algum que não tem nada a ver com a vida real.
Não tornei a vê-la nem a me perguntar por ela até que soube do anel em forma de cobra da mulher que morreu no naufrágio do Hotel Riviera. Portanto não resisti à tentação de fazer algumas perguntas ao embaixador português quando coincidimos, meses depois, em uma recepção diplomática. O embaixador me falou dela com um grande entusiasmo e uma enorme admiração. “O senhor não imagina como ela era extraordinária”, me disse. “O senhor não resistiria à tentação de escrever um conto sobre ela”. E prosseguiu no mesmo tom, com detalhes surpreendentes, mas sem uma pista que me permitisse uma conclusão final.
— Em termos concretos — perguntei no fim —, o que ela fazia?
— Nada — respondeu ele, com certo desencanto. — Sonhava.
Março de 1980

26 de janeiro de 2015

Clarice...

Clarice de Lispector (1920 - 1977 )


"Ser mãe é coisa que mudou bastante através dos tempos.
Na França, por exemplo, houve um tempo em que as fidalgas consideravam a maternidade uma das mais desagradáveis incumbências. Sem o menor respeito ou amor pelas crianças, era moda abandonarem seus filhos em lugares distantes, de preferência no campo, na companhia de empregados e amas.
Parece estranho falarmos de assunto tão sério como esse?
Mas é que antes de ser mulher vaidosa, profissional ou dona de casa você é mãe, não é? Ou quem sabe vai ser um dia.
Ser mãe é muito mais do que dar à luz uma criança. Uma verdadeira mulher, uma verdadeira mãe, sabe que seus deveres vão muito além de enfeitar, agasalhar e alimentar seu filho. Você tem a difícil tarefa de civilizá-lo.
Não seja responsável pelas futuras falhas de seu filho, deixando-o crescer longe de seus olhos e de seus carinhos.
Esclarecida é a mulher que é de fato mãe e educadora e não uma boneca mimada a criar outros bonequinhos mimados.
Cada filho é um universo, e cabe aos pais descobrir, conquistar e fazer frutificar esse novo ser.
Sim, sim. Toda mãe e todo pai devem conhecer muito bem a criança que trouxeram ao mundo - e isso só se consegue chegando-se a ela, ouvindo suas primeiras queixas, seus primeiros desejos.
Um filho bem compreendido no lar tem as melhores armas para vencer na vida, quando tiver que enfrentá-la.
Não desanime jamais. As mães podem ser excelentes amigas se tiverem com os filhos a tolerância e a paciência que têm para o trabalho doméstico.
Lembre-se: toda criança precisa brincar.
Em vez de “se encher de paciência”, você vai se encher de amor quando se lembrar de que, para o seu filho, você é símbolo de conforto e proteção.
Mas é claro que pais e filhos se cansam mutuamente. Vigiar e ser vigiado fatiga um pouco os nervos.
O importante é não esquecer que você está moldando um ser humano, dando-lhe bons ou maus exemplos. Como pode uma mãe tentar corrigir um filho que grita se ela também grita por qualquer motivo?
Desde pequenos, os filhos devem ir aprendendo a se portar bem em sociedade. Sim, minha amiga... Quando se tornarem adultos será tarde demais.
Sua criança é um ser em formação - está sempre mudando.
Sim, filhos crescem rápido. Mas não creia que quando chegarem à puberdade a sua tarefa terminou. Nesse período de turbulência e hipersensibilidade, de vaidade e egoísmo, é que eles mais precisam de compreensão.
Os jovens não sabem muito bem o que são, nem o que querem ser. E ainda por cima desconfiam da vontade de mandar dos adultos. O melhor jeito não é insistir, e sim dar a eles uma discreta mistura de apoio e liberdade.
Com inteligência e o instinto materno que todas nós temos, você lhe mostrará o que está certo ou errado, mas de maneira sutil.
Ela vai errar, provavelmente vai - afinal, nós também erramos. Mas errar é o começo de acertar também.
Você já deve ter notado que os pais que cedem a todos os caprichos infantis passam a ser considerados pela criança um joguete.
Cabe a vocês preparar jovens capazes, conscientes e úteis.
Antes de tudo, seja amiga de seu filho. Não amiga para dar guloseimas, coisas bonitas, beijos apressados e mesadas generosas.
Generosidade, aliás, é outra coisa. Você já pensou que um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece rosas?
Eu nunca prestei um favor sem sentir que nas minhas mãos ficou a lembrança do gesto de dar. Nunca dei amor de verdade sem sentir que também recebi amor. É essa a melhor forma de se sentir recompensada por todos os trabalhos. A melhor maneira de ser mulher, a melhor maneira de ser feliz.
Minha amiga, você com certeza já sabe e sente: a ternura é uma fonte inesgotável de bem! Sem ela, o mundo sofre com impertinência, excesso de autoridade, com maneiras rudes de pais e filhos... Às vezes parece mesmo que estamos sob o império da grosseria! Mas a ternura... Ah, ela é justamente o contrário disso! Ela é o extraordinário que podemos encontrar nas coisas mais comuns, é a hóspede agradável de um lar, é ela que alimenta um amor que nunca cansa nem acaba. Guarde esse pensamento, seja você mãe ou não: o que não se consegue com ternura não se consegue por nenhum outro caminho. A ternura é a grande conquistadora, aquela que tudo consegue e tudo vence!"
( Clarice Lispector )

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE CLARISSE: Clarice Lispector,  nasceu na Ucrânia e teve um primeiro nome, Haia, antes de imigrar com a família, ainda bebê, e naturalizar-se brasileira. Ela morou no Recife e depois no Rio de Janeiro, onde se formou em direito e compôs uma rica obra de romances e contos hoje conhecidos no mundo inteiro. Inúmeras citações a ela atribuídas - na maioria das vezes erradamente - a tornaram um fenômeno na internet e nas redes sociais. Clarice viveu também na Suíça, Itália e Estados Unidos, teve dois filhos (Paulo e Pedro) e faleceu em 1977, um dia antes de seu aniversário, aos 56 anos.
OUTRA CONSIDERAÇÃO : Helen Palmer é o pseudônimo da Escritora Clarice Lispector, ela o usou ao escrever para a seção feminina do jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. A Escritora, que já era consagrada na época, manteve uma coluna sobre moda e comportamento que durou de agosto de 1959 a fevereiro de 1961.

Saiba mais sobre essa notável escritora em http://www.releituras.com/clispector_bio.asp