20 de março de 2012

DICA DE LEITURA...

Justa: Aracy de Carvalho e o 

  • Justa: Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: Trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil 
    Com vivacidade narrativa e riqueza de detalhes, Monica Schpun apresenta a amizade entre duas mulheres, Aracy de Carvalho Moebius Tess e Maria Margarethe Bertel Levy, que driblaram com muita coragem a extrema hostilidade do mundo durante a Segunda Guerra Mundial. 

    Aracy chefiava o setor de passaportes no mesmo consulado em que o escritor Guimarães Rosa, seu marido, iniciava a carreira diplomática como cônsul adjunto em Hamburgo. Aracy salvou a vida de judeus vítimas do nazismo, ao permitir que emigrassem para o Brasil. Por esse ato de coragem, foi homenageada em 1982 com o título de Justa entre as Nações, concedido pelo Museu do Holocausto de Jerusalém. 

    Margarethe e seu cônjuge, o cirurgião-dentista Hugo Levy, eram judeus liberais que desfrutavam de um padrão de vida elevado. Viajando pelo mundo, ela aprendeu várias línguas, mas viu sua liberdade bombardeada pelas leis de Nuremberg, pela Noite de Cristal e por todos os outros eventos que culminaram com a deportação e o extermínio dos judeus da Europa. 

    Centrado na história do cruzamento dessas duas vidas na Alemanha e no Brasil - e da vida de judeus de Hamburgo que se salvaram da deportação e vieram para São Paulo graças à inestimável ajuda de Aracy -, a obra apresenta um texto ágil e perspicaz, a fascinante história em que - a despeito das variações quase infinitas das narrativas individuais, dos caminhos traçados, das iniciativas tomadas e das saídas encontradas - amizade, solidariedade e acolhimento pontuam os espaços sociais que dão sentido a cada uma dessas vidas e iluminam esse contexto social e político ainda tão inextricável. 

    A partir de variada bibliografia consultada ou criada especialmente para Justa: Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: Trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil, Monica Schpun reconstrói a cidade de Hamburgo das primeiras décadas do século XX, e o modo como a intensificação da perseguição aos judeus ocorreu, além da maneira como eles procuraram contornar as formas de repressão. Apresenta também, por meio de histórias particulares, como a política migratória de Getúlio Vargas incidiu sobre os projetos dos imigrantes: o que era a São Paulo da década de 1930 e como o fluxo dos recém-chegados alterou a distribuição urbana e a vida da comunidade judaica local. 
  • Editora: Civilização Brasileira
  • Autor: MONICA RAISA SCHPUN
  • ISBN: 9788520009918
  • Origem: Nacional
  • Ano: 2011
  • Edição: 1
  • Número de páginas: 518
  • Acabamento: Brochura
  • Formato: Médio
  • Código de Barras: 9788520009918

Quem foi Aracy de Carvalho Guimarães Rosa?


 

Nasceu no Paraná em 1908. Filha de pai brasileiro e mãe alemã.

Aracy foi a segunda mulher do escritor João Guimarães Rosa. Conheceram-se no final da década de 1930, no Consulado Brasileiro onde trabalhava, quando Guimarães Rosa chegou para assumir o cargo de cônsul adjunto. Conheceram-se e apaixonaram-se. No final da década de 1930 casam-se por procuração no México. A lei brasileira ainda não permitia o casamento de dois desquitados.

Para além de ter sido a companheira de um dos mais conceituados escritores brasileiros, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa teve trajetória, conquistas e méritos próprios para ser reconhecida e homenageada. 

Como numa narrativa ficcional, seu passado, sua história é repleta de aventuras, perigos e romance. Única mulher a ter seu nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto (Yad Vashem), em Israel. Esta honra é concedida pelo governo Israelense a pessoas que colocara suas vidas e por que não dizer, também a de seus familiares, em perigo, para ajudar judeus. O governo de Israel passou a partir da década de 1960 a homenagear pessoas que ajudaram a salvar os judeus diante do anti-semitismo; e em reconhecimento é plantada uma árvore in Memoriam, o que dá origem ao nome do lugar, também chamado de Alameda dos Justos. O/a escolhido/a recebe também uma medalha, feita especialmente para ele/a, um certificado de honra e seu nome cravado na Parede de Honra no Jardim dos Justos em Yad Vashem. A cerimônia é realizada em Israel, ou no país de residência do/a homenagiado/a com a participação dos representantes diplomáticos.

Sendo o único nome de uma funcionária consular e não de embaixador ou cônsul, Aracy recebeu esta grande honra no ano de 1982, em reconhecimento por ter concedido centenas de vistos aos judeus, salvando-os da morte, apesar da proibição brasileira em relação a imigração deles no ano de 1937. Aracy tinha total entendimento e plena consciência dos riscos que corria, sobretudo porque não gozava das imunidades consulares, garantidas aos diplomatas; o que torna sua iniciativa ainda mais temerária. 

Aracy corajosamente intervém em favor dos judeus e ousa colocar sua vida em risco e desobedecer à célebre Circular brasileira, que proibia a emissão de vistos para judeus. Com muita coragem e engenhosidade desafiou o arbítrio do Estado Novo e o nazismo. 

Qual era sua estratégia? Como costumeiramente despachava com o Cônsul Geral ela misturava, entre os documentos para assinatura, os que concediam vistos para os judeus. O cônsul automaticamente assinava a “pilha de papéis” sem, contudo perceber que entre eles estavam os considerados “explosivos”, ou seja, aqueles que possibilitavam a vinda de judeus para o Brasil. Assim, no final da década de 1930, em Hamburgo, como funcionária do consulado brasileiro, a revelia da lei, ajudou judeus a entrar ilegalmente no Brasil, durante o Estado Novo de Vargas.

Não media esforços, desconsiderando o perigo que o nazismo representava. Dentre suas façanhas, também usou seu passaporte diplomático para conduzir pessoalmente diversos judeus até o navio, assegurando-lhes o embarque.

Em 1942, após navios brasileiros serem afundados por submarinos alemães, o Brasil declara guerra à Alemanha. Aracy e Guimarães Rosa voltaram para o Rio de Janeiro em decorrência dos acontecimentos. Enviuvou em 1967 e não se casou de novo.

Salvou judeus na Alemanha nazista, enfrentou as leis anti-semitas do Estado Novo e na década de 1960, morando na cidade do Rio de Janeiro, escondeu perseguidos políticos durante a ditadura militar.

Extremamente discreta, somente recentemente sua história veio à tona, muito por conta do empenho de alguns protegidos do passado. A história brasileira não contempla esta mulher, conhecida pela comunidade judaica por “Anjo de Hamburgo”.

Aracy Guimarães Rosa, funcionária consular que não gozava de todas as garantias diplomáticas, pode ser considerada protagonista de uma grande aventura entrecortada de perigos, coragem e recheada de muito amor e dignidade. A trajetória de vida de Dona Aracy, ou como seu companheiro Guimarães Rosa a chamava, Ara, revive personagens e imagens que fazem desta mulher um vulto histórico exemplar, digno de ser incluído urgentemente nos livros de história do Brasil. 

Encontramos em um exemplar do livro Grande Sertão: Veredas - um dos grandes fenômenos da literatura brasileira - uma dedicatória do autor, João Guimarães Rosa: “A Aracy, minha mulher, Ara, pertence este livro”.

(http://www.digestivocultural.com/ensaios…

Nenhum comentário:

Postar um comentário